Olhos cansados, envoltos no fumo do cigarro que colaste aos teus lábios.
Negros, profundamente marcados. Amarelos, claros, tristes, não mais alegres. E a linha do teu perfil alterada.
Na testa a tua agonia, nas tuas mãos um bilhete de avião.
O teu cabelo enrolado, um castanho diferente.
As tuas unhas partidas, sempre partidas, bonitas.
Repulsa.
A mesma camisola de sempre, de outra cor e os teus braços compridos… macios…
O cheiro, o cheiro que não se foi embora. Cipreste, orvalho e morangos gelados.
Não penses que não sei o que fizeste, não consideres que não sabem quem tu és. Não me enganas com a tua voz, não me enganas. Estou de olhos fechados.
Eu subi os degraus até ao último patamar. Tu ficaste sentado, como sempre, tu e o teu cigarro. Eu toquei nas pedras, senti-lhes a forma, atirei-as ao ar e devolvi-as.
Tu sorriste, simplesmente.
Orelhas impostoras, ofensivas, presentes.
E não me deixas envenenar-te, afogar-te, não me deixas respirar.
Perco o fôlego e os teus velhos olhos não se mexem. Divertes-te.
Meço-te em meses, divides-te em 4 (quatro).
Apaga-se a luz. Escureço.