Acordou sobressaltado, teve vontade de chorar e pensou por um momento.
Não se lembrava da última vez que tinha acordado com aquele sentimento de perda... "Será que aconteceu alguma coisa?!".
Levantou-se rápido o suficiente para quase perder os sentidos, deixando os joelhos descaírem até à trave da cama, inevitavelmente batendo com eles e ficando marcado. Esperou outro momento, só até sentir-se capaz de dar um passo e, quando o fez finalmente, apercebeu-se da força do que lhe tinha acontecido. Tinha o peito aberto, sabia-o bem, tinha já pressentido o seu destino.
E o sangue escorria…
Teve vontade de gritar mas não tinha voz e, por esta altura, a sua pele era já pálida dada a ausência quase total de sangue no seu corpo.
Teve vontade de vomitar mas não teve força.
Teve, mais uma vez, vontade de chorar, mas os seus olhos estavam secos, tinha chorado a dormir enquanto sonhava com a felicidade.
Pegou então numa agulha e linha e inicou uma tentativa de reanimação do seu próprio coração: “Vou cozê-lo!”. E com a dor adormeceu os sentidos e os seus olhos voltaram a chorar, sentiu paz.
Mas este coração não voltou a bater… e sentiu paz.
Largou a agulha e a linha, sentou-se tranquilo no chão e lentamente deixou-se escorregar pousando a cabeça num tapete ensanguentado. Nada importava.
E sentiu-se mais calmo. Tencionava dormir ali, no dia seguinte acordaria quem sabe sem vida, e sem vida viveria até encontrar novamente um sorriso.
Percebeu que estava às escuras mas era assim que se sentia. Porquê acender a luz?
“Talvez um dia o possa fazer, mas agora quero ficar aqui, não quero sair daqui, deixem-me ficar aqui…”. Ninguém o ouviu.