Uma realidade com que me fui deparando, nas muitas viagens de transportes públicos que tenho vindo a arrecadar ao longo destes (quase) dois meses de estadia (proponho, por momentos, uma ovação à rede de transportes públicos de Barcelona) é a da abertura de mente desta gente.
Consideremos inicialmente este facto... uma coisa boa. Sim, sou a favor do progresso e da evolução da espécie, e sim sou também a favor da mistura, da igualdade e fraternidade, mas analisemos as coisas exactamente como elas são:
- Homossexuais (e refiro-me a homens e mulheres) passeiam-se pelas "calles" de mãos dadas e beijando-se alegremente, mostrando ao mundo que é possível viver feliz na diferença (ou, por outro prisma, na falta dela);
- Fumadores, apesar de proibidos já em muitos sítios de exercerem o seu vício, onde estão são aceites e tolerados desde que, obviamente, pratiquem o respeito pelos irmãos não fumadores;
- Cãezinhos e bichinhos variados vêem-se por toda a cidade com suas mamãs e, na sua grande maioria, portam-se bem onde quer que vão. São apreciados e têm lugar no metro, nos autocarros, em alguns restaurantes, etc. e demais;
- As mais variadas etnias, culturas e religiões também têm o seu papel nesta sociedade... refira-se que em Barcelona os Catalães muito provavelmente estarão em minoria;
- Deficientes e 'menos-válidos' beneficiam de infra-estruturas públicas fantásticas, programadas para recebe-los da melhor forma possível e fazendo com que não se sintam excluidos;
- Papás e mamãs caucasianos mostram a quem queira ver seus bebés adoptados trazidos de fora, sendo que predominam as crianças asiáticas e de origem africana.
Fantástico, dá-se a oportunidade a milhares de crianças que todos os dias vivem abandonadas em orfanatos de condições que deixam muito a desejar (permito-me corrigir-me, muito abaixo do que seria aceitável para um ser humano).
Acontece que numa cidade tão cosmopolita e competitiva, as mulheres não têm lugar no mundo do trabalho se não se puserem frente-a-frente no campo de batalha com os homens. Digam o que disserem, por altura de uma gravidez a principal prejudicada a nível profissional será a mulher, que terá de abdicar de progredir (em muitos casos) para nutrir e educar o fruto do seu ventre. Ora, deparadas com esta situação, a maioria decide deixar para mais tarde esta tarefa a elas adjudicada pelos homens. Quando finalmente atingem um patamar de estabilidade nas suas carreiras o corpo está ressentido pela idade, e o regresso a normalidade depois de conceber não é tão fácil quanto seria aos 20 anos de idade.
Eis que resolvem optar por outro caminho. O da adopção. Acreditem ou não, verifica-se o que relato. Instala-se, então, uma nova moda... E porque tudo em Barcelona está na moda, o último grito é ter um filho de outra cor ou feitio. Juntam-se em clubes (figurativamente falando), passeiam-se para mostrar, quase que os escolhem por catálogo e alguns começaram já a coleccioná-los. Existe coisa mais amorosa que uma bebé de olhos rasgados e cabelos pretos lisinhos, atados com um laço cor-de-rosa e ornamentada com as mais variadas peças de roupa de marca? Ou que um boneco escurinho de cabelo entrançado e pele dourada?
Sugiro as cadernetas.
Só espero que o encanto inicial não se quebre e que as pessoas estejam preparadas para apoiar eternamente uma criança que a partida sentir-se-á diferente porque os pais são diferentes de ela própria. Que os amem ao longo das suas vidas e que tomem este tipo de decisão porque é, de facto, uma causa nobre a de apoiar um ser humano que de outra forma não teria chance de vingar. Que a moda se mantenha por muitas estações...