A vida de uma lagarta
Há eventos que nos estão predestinados, alinhados com a nossa alma desde o momento em que nascemos. Estes caminham calmamente ao nosso lado, puxando-nos para aquilo que é certo que faremos antes de morrer. Outros sucedem aleatoriamente e estes parecem-nos mais custosos, pois injustiçam aquilo em que acreditamos. São ricos na moeda de troca do mercado da aprendizagem, requerem uma pós-introspectiva que delibere sobre a verdadeira causa pela qual se nos defrontam. Aqui forma-se um ponto de paragem.
Os pontos de paragem são essenciais. Ninguém poderá tão preponderantemente orgulhar-se de ter chegado ao fim com o todo da sabedoria, sem que tenha parado. Os pontos de paragem levar-nos-ão continuamente em frente, outras vezes obrigar-nos-ão a virar (não é importante para que lado nos levam) e outras, inclusive, far-nos-ão retornar. Os pontos de paragem nunca são fáceis.
Finalmente, no caminho (e é permitido que se absorva a palavra no seu sentido mais metafórico), podemos lutar ainda com um evento que não nos estava predestinado mas que também não tem origem aleatória. São eles colocados por algum motivo subjacente (e os mais esotéricos acreditarão que estes nos são enviados pelos anjos que nos guardam).
O motivo é sempre forte. Forte o suficiente para cobrir a nossa falsa inocência, para nos premiar por actos nobres, para nos compensar de perdas fatais. Forte o suficiente para que passemos pela metamorfose, pela mutação ou até pela aculturação.
A seriedade da coisa dorme sobre a capacidade de decisão. Eu hoje decidi acordar, decidi respirar, decidi abrir os olhos e até decidi trabalhar com mais intensidade. Eu amanhã decidirei levantar-me de manhã, decidirei estar bem-humorada, decidirei fazer escolhas. Não sei se vou escolher avançar, se, por outro lado, vou escolher desistir, se vou escolher virar à direita, se vou escolher voltar para trás.
Seja qual for o cenário que encontrar, amanhã o caminho continuará a ser pedregoso.